Em Gravataí, no Rio Grande do Sul, a inspiração para a criação de um laboratório de dados que orientasse a gestão pública veio de longe. O modelo adotado no município, que fica próximo à capital Porto Alegre, segue os moldes do Digital Governance Lab, uma plataforma de dados abertos do governo da Estônia que é base para formulação de políticas públicas no país.
Na cidade gaúcha, a primeira missão do centro de data science será munir cinco secretarias da cidade com informações que vão direcionar as decisões das pastas de Desenvolvimento Econômico, Saúde, Educação, Segurança e Mobilidade. O plano envolve a realização de reuniões regulares entre os pesquisadores e os gestores públicos, para acesso e análise de dados.
Chamado de LIDAG – Laboratório de Inteligência de Dados, o centro de informação de Gravataí é fruto de uma parceria entre a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia de Gravataí e a Wise.
“A ideia, desde o início, era juntar o gestor público, a universidade e a gestão privada para construir um laboratório que orientasse a tomada de decisão”, conta Paulo Ardenghi, CEO da Wise, startup com foco em cidades inteligentes.
“Algumas prefeituras já têm uma política de dados abertos. Mas essa é a primeira vez que essa política acontece nesse modelo, com um laboratório que vai orientar decisões de cinco pastas diferentes de forma transversal”, destaca a secretária de Inovação, Ciência e Tecnologia de Gravataí, Selma Fraga.
O projeto faz parte de uma série de iniciativas que a cidade tem adotado com foco na digitalização e na inovação local. No ano passado, Gravataí, que é quarta maior economia do estado, aprovou uma legislação que traz as diretrizes para criação de um Governo Digital. O modelo envolve um programa de aceleração de startups e outro de formação profissional.
Como o laboratório irá operar
Para analisar as informações, o laboratório contará com o trabalho de quatro pesquisadores da UFRGS e dois professores da universidade. A estrutura de tecnologia, que envolve a criação de dashboards para acompanhar os dados em tempo real, conta com a consultoria da Wise e tem o desenvolvimento feito pelos pesquisadores da universidade a partir do CEPA, o Centro de Estudos e Pesquisas em Administração.
Apresentado em novembro do ano passado, o LIDAG vai começar a rodar em março, com as primeiras reuniões orientadas por dados programadas para acontecer em abril. Além de fornecer os dados para a prefeitura de Gravataí, o projeto também envolve o treinamento de servidores públicos para atuar com modelos de data science e inteligência de dados.
“Acho que o modelo pode acabar inspirando outras prefeituras a seguirem caminhos parecidos”, diz a secretária Selma Fraga. “É muito importante que a análise técnica faça cada vez mais parte do setor público”, afirma.
Os pesquisadores terão cinco eixos de trabalho: usar inteligência de dados para promover a melhoria de serviços públicos; envolver a pesquisa acadêmica na validação de modelos de utilização de dados; realizar testes piloto sobre aplicações de ciências de dados; apoiar a geração de startups, a capacitação e aceleração de talentos e a eventual prestação de serviços na área de análises de dados; e auxiliar a tornar mais ágil a tomada de decisão dos gestores públicos.
Análise preditiva e open data
O CEO da Wise conta que, além das informações coletadas pela gestão municipal, a análise vai contar com o cruzamento de dados de bancos estaduais e federais. O desenvolvimento de análises preditivas, diz, pode beneficiar muito o setor público.
A ideia é poder, por exemplo, prever o movimento no transporte público e o comportamento na utilização de modais para, assim, desenvolver estratégias mais direcionadas. Na área de saúde, as análises poderão ajudar no direcionamento de recursos e no planejamento de investimentos.
Na segurança pública, o laboratório tem como foco principal os roubos e furtos de veículos. Com a tecnologia de dados, o laboratório poderá identificar padrões e, a partir de modelos matemáticos, estruturar rotas de policiamento.
Além de alimentar a estrutura da Prefeitura com dados, o laboratório tem trabalhado também para que todo o trabalho seja open data, com acesso aberto na plataforma da cidade. “O desafio hoje é trazer esses dados que já temos e que estão armazenados para que possam ser lidos e aproveitados.”
Para Paulo, o modelo deve trazer algumas vantagens: a tomada de decisões mais assertiva, a otimização dos recursos da gestão municipal e a eficiência maior na adoção de políticas públicas. “A gente espera que toda essa estrutura também ajude a fomentar a criação de novos negócios digitais”, diz.
Fonte: Época Negócios